terça-feira, 14 de maio de 2013

Momento reflexão..

Buenas Noches!

Aqui vai um texto genial para refletirmos... 


Time is honey

Poucas coisas neste mundo são mais tristes do que um bolo industrializado. Ali no supermercado, diante da embalagem plástica histericamente colorida, suspiro e penso: estamos perdidos. Bolo industrializado é como amor de prostituta, feliz natal de caixa automático, bom dia da Blockbuster. É um anti-bolo. Não discuto aqui o gosto, a textura, a qualidade ou abundância do recheio de baunilha, chocolate ou qualquer outro sabor. (O capitalismo, quando se mete a fazer alguma coisa, faz muito bem feito). O problema não é de paladar, meu caro, é uma questão de princípios. Acredito que o mercado de fato melhore muitas coisas. Podem privatizar a telefonia, as estradas, as siderúrgicas. Mas não toquem no bolo! Ele não precisa de eficiência. Ele é o exemplo, talvez anacrônico, de um tempo que não é dinheiro. Um tempo íntimo, vagaroso, inútil, em que um momento pode ser vivido no presente, pelo que ele tem ali, e não como meio para, com o objetivo de.

Engana-se quem pensa que o bolo é um alimento. Nada disso. Alimento é carboidrato, é proteína, é vitamina, é o que a gente come para continuar em pé, para ir trabalhar e pagar as contas. Bolo não. É uma demonstração de carinho de uma pessoa a outra. É um mimo de avó. Um acontecimento inesperado que irrompe no meio da tarde, alardeando seu cheiro do forno para a casa, da casa para a rua e da rua para o mundo. É o que a gente come só para matar a vontade, para ficar feliz, é um elogio ao supérfluo, à graça, à alegria de estarmos vivos.
A minha geração talvez seja a primeira que pôde crescer e tornar-se adulto sem saber fritar um bife. O mercado (tanto com m maiúsculo como minúsculo) nos oferece saladas lavadas, pratos congelados, comida desidratada, self-services e deliverys. Cortar, refogar, assar e fritar são verbos pretéritos.
Se você acha que é tudo bem, o problema é seu. Eu vou espernear o quanto puder. Se entregarmos até o bolo aos códigos de barras, estaremos abrindo mão de vez da autonomia, da liberdade, do que temos de mais profundamente humano. Porque o próximo passo será privatizar as avós, estatizar a poesia, plastificar o amor, desidratar o mar e diagramar as nuvens.

Tô fora.

(Antonio Prata)

Bom descanso a todos... ou bom trabalho... ou bons estudos!!!

3 comentários:

  1. Ótimo texto para uma reflexão sobre a "industrialização e privatização de valores". Um dia um comentário de um colega me fez refletir: "o mundo esta mudando tão rápido que eu não consigo acompanhar". Será mesmo que devemos culpar as coisas se referindo ao "mundo", ou será que são as pessoas que estão mudando ao deixar de lado certos conceitos, valores, modelos, etc. Penso que o mundo é o mesmo, - apesar do aquecimento global, lógico, mais somos nós que estamos mudando.
    Adorei seu texto e seu blog. Já disse isso antes e ratifico novamente.
    Abraços.

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    1. Obrigada, Dessano! Concordo com suas palavras... Os valores estão de fato quase que desaparecendo desse mundo...
      Esse texto foi proposto pela professora Rita para fazermos uma reflexão sobre a aula passada (que você não estava)! Achei incrível!
      Abraços...

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  2. Dessano perdeu...Mas, ainda é possível recuperar a receita do bolo da Vovó...

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